Blindagem de guitarra: faça você mesmo!

ERRATA:  Com base na postagem "Blindagem de guitarra - ERRATA", de  19 de março de 2012, você deve ler este artigo até o fim.  A conclusão da mesma é a seguinte:  "a produção e aplicação da tinta condutiva caseira para blindagem de guitarras é possível, deve ser realizada conforme foi descrita em sua preparação e aplicação e para garantir que a mesma seja totalmente funcional, você deve polir a camada superficial da tinta condutiva para seu perfeito "aterramento".  As postagens relacionadas estarão agora, com a indicação de "ERRATA" para correção de seu conteúdo final.


Amigos entusiastas:

Este assunto é polêmico e de grande importância àqueles que queiram banir completamente os chiados indesejáveis quando se está tocando guitarra.  Falo daqueles chiados capazes de estragar qualquer performance, desde as grandes até aquelas feitas em seu homestudio caseiro.

Antes de ouvir críticas daqueles que sentem-se os "donos da verdade", aviso aos amigos do blog que sou eletrotécnico formado pela antiga Escola Técnica Federal de Campos, hoje, IFF e com relação aos princípios e fatos relatados nesta postagem, os mesmos não apresentam nenhum tipo de mistério para mim, pela minha formação técnica.

Quando falamos em blindagem de guitarras, um fato real deve ser considerado  e muitos guitarristas  deixam-o de lado, muitas vezes, por desconhecerem que a maioria das guitarras comercializadas no Brasil não possuem  blindagem interna.  Muitos afirmarão:  "o escudo de minha guitarra tem uma pequena folha adesiva de alumínio e é blindada sim!"  Eu afirmo categoricamente que se sua guitarra possui apenas uma pequena folha adesiva aluminizada, localizada na parte interna do escudo da mesma:  A situação dela é crítica, pois somente isto não é capaz de blindar completamente a guitarra, eliminando os chiados indesejáveis.

 Figura-01:  Parte interna de uma stratocaster 1954, sem a aplicação da tinta condutiva por seu fabricante 

(não era feita tal aplicação em 1954).

Figura 02:  Escudo interno de uma stratocaster "semi-blindada", comumente encontrada. 

Um pouco de teoria não faz mal a ninguém, e assim sendo, convido os amigos entusiastas do blog a um pouco de informação teórica:  Chamamos de Gaiola de Faraday, um princípio observado pelo Físico britânico Michael Faraday (1791-1867), onde o mesmo afirma em seu princípio que: "uma superfície condutora que envolve uma determinada região do espaço, em certas situações, pode impedir que haja a entrada de determinadas perturbações, causadas por campos eletromagnéticos externos".  Ou seja:  a "gaiola de Faraday" quando feita apropriadamente em instrumentos musicais elétricos e que sofrem a influência de efeitos eletromagnéticos (captadores), anulará tais efeitos, permitindo a eliminação dos "zumbidos" ou chiados indesejáveis.

Figura 03:   Michael Faraday (1791-1867)

  

Figura 04:   Simulação da anulação do campo eletromagnético interno

Assim sendo, encontra-se na internet a recomendação de realizar o processo de "Gaiola de Faraday" nas guitarras e tais recomendações são muito vastas no que se refere a forma de como realizar tal tarefa.    

Observa-se que muitas guitarras "top", possuem em sua cavidade interna, a aplicação de uma tinta condutiva por seu respectivo fabricante.  Curiosamente, retirei o escudo de minha Squier Classic Vibe e lá estava a  "tinta condutiva" aplicada previamente por seus fabricantes.

Figura 05:   Imagem ilustrativa de uma guitarra com tinta condutiva de fábrica

Muitos recomendam a aplicação de uma tinta spray eletromagnética na cavidade interna da guitarra, tinta esta que não é fácil de encontrar no mercado nacional e que possui um valor considerado por mim como um pouco elevado e que em se tratando do objetivo final, pode ser substituído pela aplicação de outro método.  Há aqueles que recomendam a aplicação de folhas de cobre, folhas estas, adesivas ou não, a serem colocadas internamente nas cavidades da guitarra.  Outros ainda, recomendam a técnica  de  aplicar-se internamente na guitarra uma solução "condutiva" feita com grafite em pó (método este encontrado facilmente na internet e que curiosamente, achei interessante e que descreverei abaixo e que acima de tudo, você não deve fazer em hipótese alguma.  Repito:  Nâo faça isso!   Explicarei o porque de não fazer no final da postagem.

ERRATA:  Com base na postagem "Blindagem de guitarra - ERRATA", de  19 de março de 2012, você deve ler este artigo até o fim.  A conclusão da mesma é a seguinte:  "a produção e aplicação da tinta condutiva caseira para blindagem de guitarras é possível, deve ser realizada conforme foi descrita em sua preparação e aplicação e para garantir que a mesma seja totalmente funcional, você deve polir a camada superficial da tinta condutiva para seu perfeito "aterramento".  As postagens relacionadas estarão agora, com a indicação de "ERRATA" para correção de seu conteúdo final.

Tal método consiste em fabricar artesanalmente uma tinta condutiva usando-se para tanto:  Uma lata de 3/4 ou menor quantidade de "seladora para madeira", 3 potes de grafite em pó, usado comumente como lubrificante de peças metálicas. 

Figura 06:   Seladora para madeira e grafite em pó

Você deve preparar-se para manusear tal material, pois a seladora é inflamável e pode causar irritação relativo a seu odor quando inalada.  A seladora deve ser diluida com thinner e misturada com 03 potes de grafite em pó, até obter-se uma mistura homogênea, não muito rala.

Figura 07:   Grafite em pó sendo adicionado à seladora para madeira

 É útil saber que todo este processo deve  ser feito cuidadosamente, principalmente   no momento de aplicar-se a solução no interior do instrumento, pois caso haja derramamento na parte externa da guitarra, lágrimas rolarão copiosamente e para evitá-las, deve-se isolar a parte externa da guitarra com fita adesiva automotiva ou mesmo jornal.  Em meu caso, fiz pelo métoto "kamikase" e não isolei nadinha, "evitei apenas não ingerir bebida alcoólica antes do processo", hehe...

Figura 08:  "Ummagumma" minha stratocaster antes de ser "blindada"  

Amigos, eu estava radiante com o processo, pois fazer as coisas é algo engrandecedor, principalmente, quando temos tempo e boa vontade e assim, fui dando prosseguimento:  misturei a seladora ao grafite, peguei um pincel pequeno e mandei ver:  "grafitei" internamente a guitarra, sendo que antes, tive que preparar a guitarra internamente para tal aplicação, bastando aplicar um pouco de thinner com uma estopa no interior da guitarra, para que seja removido um pouco do verniz da guitarra, garantindo que a "solução condutiva" possa aderir ao interior do instrumento.

 Figura 09:  Thinner sendo aplicado antes da solução condutiva

Figura 10:   Tinta condutiva sendo aplicada na guitarra

 Após alguns minutos de trabalho, a primeira demão foi dada e pra falar a verdade, o aspecto ficou além do esperado, dando uma ligeira impressão, um toque "industrial" à guitarra.  

 Figura 11:  Cavidade interna da guitarra após a aplicação da "tinta condutiva caseira" - 01

 Nota-se na figura abaixo que apliquei a "tinta condutiva" para alguns centímetros além da borda interna do instrumento e a razão para isso foi para que haja o contato entre a folha aluminizada do escudo da guitarra com a camada interna de "tinta condutiva", literalmente, "fechando a gaiola de Faraday".  

   Figura 12:  Cavidade interna da guitarra após a aplicação da "tinta condutiva caseira" - 02

  

Para a minha surpresa, após  o trabalho realizado, esperei o tempo de secagem da tinta condutiva, recoloquei o escudo na guitarra, coloquei as cordas, enfim:  remontei a guitarra e realizei o primeiro e lastimável teste:  Digo lastimável, pois a guitarra estava com o mesmo chiado de antes.  Isto mesmo:  A guitarra não estava blindada e o resultado final pelo processo escolhido foi realmente lastimável, exigindo uma certa investigação sobre o que poderia ter causado tal comportamento "anômalo" e inesperado.

Pois bem, desmontei a guitarra, peguei o multímetro, coloquei na escala para a realização do teste de condutividade e pronto:  para a minha surpresa, o resultado apresentado pelo multímetro foi incontestável, mostrando-me que a solução preparada e descrita neste artigo não possui características condutivas, uma vez que se assim fosse, o teste de condutividade com o multímetro indicaria  o valor de "0 Ohms", valor encontrado quando estamos a realizar teste de condutividade com um multímetro e ambas as ponteiras do mesmo são curtocircuitadas.  

Apesar do grafite ser um material condutivo, creio que a solução não apresentou propriedades condutivas devido a 03 fatores: 

01-  Pelas características químicas da seladora para madeira usada;

02-  Além do pó de grafite não estar  unido homogeneamente na solução o que impossibilitou a condutividade elétrica e posteriormente, o efeito "gaiola de Faraday";
03-  Pela notável diferença entre as propriedades condutivas dos metais, onde o grafite está em último lugar na tabela conforme pode ser visto na figura 14. 

Assim sendo, e Deus é testemunha disso, obtive resultado satisfatório, perfeito, excepcional, com algo que é "abominável" por muitos "luthiers", ou seja:  utilizei o material mais fácil de ser encontrado e que é altamente indicado para a realização da "gaiola de Faraday":  Um rolo de papel alumínio, desses usados pelas donas de casa para envolver alimentos antes de levá-los ao forno ou até mesmo ao freezer. 

 Figura 13:  Rolo de papel alumínio, usado pelas cozinheiras do mundo inteiro

Muitos "luthiers" abominam o uso do papel alumínio, mas o que eles desconhecem é que o alumínio possui propiriedade condutiva excepcional, além de tal material ser facilmente encontrado e não requerer grande trabalho em sua aplicação.   Na tabela abaixo, curiosamente, nota-se uma peculiaridade:  a enorme, estratosférica diferença entre a condutividade do alumínio e grafite, onde o alumínio apresenta condutividade de 34,2 (S.m/mm2) contra 0,07 (S.m/mm2) do grafite.

 Figura 14:  Tabela de Condutividade elétrica

 O interessante foi um pequeno teste que realizei com o multímetro e que ilustra perfeitamente a condutividade do alumínio e que pode ser visto nas figuras abaixo:  

Figura 15:   Terminais do multímetro em aberto no teste de condutividade:  

Os terminais vermelho e preto não estão "curtocircuitados"

Figura 16:   Terminais do multímetro "fechados" no teste de condutividade.  

 Os terminais vermelho e preto estão "curtocircuitados".

Figura 17:   Terminais do multímetro "fechados" no teste de condutividade com o papel alumínio.

 Os terminais vermelho e preto estão "curtocircuitados" pelo alumínio, indicando o valor de 0,00 Ohms.

ERRATA:  Com base na postagem "Blindagem de guitarra - ERRATA", de  19 de março de 2012, você deve ler este artigo até o fim.  A conclusão da mesma é a seguinte:  "a produção e aplicação da tinta condutiva caseira para blindagem de guitarras é possível, deve ser realizada conforme foi descrita em sua preparação e aplicação e para garantir que a mesma seja totalmente funcional, você deve polir a camada superficial da tinta condutiva para seu perfeito "aterramento".  As postagens relacionadas estarão agora, com a indicação de "ERRATA" para correção de seu conteúdo final.  


Pois bem amigos do blog:  não recomendo a fatídica tarefa de fabricar a tinta condutiva com seladora para madeira e grafite em pó, pois ela não apresenta resultado satisfatório.  Pode ser que apresente com outro tipo de seladora para madeira, devido a suas características químicas, mas sinceramente, não perderei meu tempo em descobrir qual é a seladora ideal a ser usada na tarefa.  

Assim sendo, recomendo o uso de folhas de papel alumínio para a blindagem de guitarras e afins, desde que sejam feitas algumas preparações para evitar curto circuito entre os terminais dos potenciômetros, como o isolamento de seus terminais com fita isolante e fixação da folha de papel alumínio na cavidade interna da guitarra, usando-se fita adesiva, devidamente cortada nos tamanhos apropriados com uma tesoura pequena. 

Realizei a blindagem de minha guitarra com este processo e a mesma está devidamente livre e imune dos chiados indesejáveis.

Grato pela atenção dos amigos do blog e boa sorte a todos em suas tentativas.